Cohousing – modelo de moradia e vida que combina privacidade com comunidade

por Gigi em 23 de junho de 2022
Edgar Werblowsky

Edgar Werblowsky é incentivador do cohousing no Brasil. É coordenador do Curso Internacional de Cohousing. Criador da Free Aging, plataforma de eventos de envelhecimento saudável e longevidade. Fundador da Freeway Viagens, e da Immaginare Experiências


O que é o cohousing?



O cohousing é um modelo de moradia e vida que combina a privacidade com que estamos acostumados com a convivência em comunidade que nos faz tão bem.



E é exatamente neste binômio privacidade-comunidade que repousa seu diferencial em relação a outros tipos de moradia.



Por que o cohousing?



Com o envelhecimento da população e a dispersão das famílias surge a necessidade de se encontrar formas de moradia que propiciem qualidade de vida para a terceira etapa da vida.



Não seria errado dizer que muito mais do que uma alternativa de moradia o cohousing é uma proposta de vida. Por isso mesmo é essencial que as pessoas que aderirem a determinado grupo conheçam a missão e os valores desse grupo, e avaliem se eles comungam com eles.



O Brasil tem um potencial enorme e uma necessidade imperativa de soluções de moradia e vida para as pessoas que envelhecem. O isolamento e a solidão podem ser um dos grandes males das próximas décadas e a pandemia só veio para alertar.



Quais são os tipos de cohousing?



Os cohousings podem ser urbanos, suburbanos e rurais, em termos de localização. Eles podem ser multigeracionais ou seniors, quanto à composição etária de seus membros.



Onde nasceu o cohousing?



O cohousing nasceu na Dinamarca nos anos 70 e foi logo se espalhando pela Europa do norte. Em seguida o conceito inovador de moradia atravessou o Atlântico e chegou aos Estados Unidos através do arquiteto Charles Durrett e de sua mulher Kathryn McCammant, que passaram vários anos estudando essas comunidades na Dinamarca.



Por que está crescendo o interesse e a busca por cohousings no Brasil?



O envelhecimento da população, com seu consequente isolamento e solidão, tem levado à busca de soluções de moradia e vida mais satisfatórias, ainda não contempladas pela sociedade em geral.



A pandemia, com o isolamento forçado que provocou, trouxe mais ainda à tona estas problemáticas do isolamento e da solidão, com suas consequências negativas sobre a saúde física e emocional das pessoas. O cohousing, modelo de moradia onde as pessoas convivem entre si, criam laços de cooperação e apoio mútuo, surge como uma das melhores respostas para esses problemas. 



Quem escolheu o cohousing como uma das melhores opções para o envelhecimento ativo e saudável, em comunidade?



Foi o GT Moradia, da AdUnicamp, a Associação dos Docentes da Unicamp, que estudou os diversos modelos de moradia para as pessoas que envelhecem existentes no mundo e, após as análises e comparações, escolheu o cohousing como a melhor opção para o seu grupo de professores aposentados da Unicamp. A partir daí foi criado o Cohousing Vila Conviver, em Campinas, que está na fase de implantação.



Qual a diferença entre um cohousing e um condomínio?



No condomínio o foco está na individualidade absoluta representada pela casa ou pelo apartamento. Normalmente as pessoas pouco se conhecem e não há proposta ativa de uma vida comunitária. 



O cohousing, por outro lado, se baseia em dois pilares fundamentais: privacidade e comunidade. Cada pessoa tem sua casa ou apartamento como no condomínio, o que garante a privacidade. Mas o cohousing tem algo maior: uma comunidade. Esta comunidade é deliberadamente criada, através de reuniões, normalmente conduzidas por um facilitador, onde vão se formando subgrupos que irão cuidar de todos os aspectos da vida em comunidade, como jardinagem e paisagismo; programação social e cultural; afiliação; vida comunitária; cuidar e aconselhar; construções; guardiães da missão e visão; finanças; casa comum, etc. 



Quem administra o cohousing?



Diferentemente de qualquer outro modelo de moradia, notadamente dos condomínios, o cohousing é uma comunidade intencional, onde todos têm uma voz. E diferentemente das organizações a que estamos acostumados, onde existem sistemas hierárquicos, diretorias, etc, o cohousing é uma comunidade horizontal, autogovernada. Aqui não existe administradora nem síndico. As decisões são tomadas em conjunto, e as lideranças e facilitadores são definidos apenas para levar o trabalho adiante, com um rodízio entre os membros. E isto exige a participação de todos, num processo contínuo de auto aperfeiçoamento e autoconhecimento.



Qual a diferença entre um cohousing e um coliving ?



No cohousing cada pessoa tem sua casa ou apartamento; no coliving as pessoas moram todas juntas na mesma casa, cada uma com seu quarto.



Qual a importância do cohousing para a saúde integral?



Estudos internacionais, como os de Harvard, e os das Blue Zones – os hotspots de longevidade no planeta – entre vários outros, têm mostrado que o fator mais importante para a manutenção da saúde e do bemestar, quando envelhecemos, está em nossas conexões humanas de apoio e confiança, o que traduzido de outra maneira, chamaríamos de amigos. Ou seja, conviver proximamente com pessoas que se apoiam mutuamente faz a grande diferença para uma vida longa, rica e saudável.



Em linguagem contemporânea o cohousing traz aos dias de hoje o suporte que os vizinhos se davam nos tempos de ontem. 



Existem cohousings para visitar no Brasil?



Além da Vila Conviver, existem outras iniciativas de cohousing no país, mas elas também estão todas em fase de projeto. Nenhuma foi ainda concluída. O desafio é grande. Pois além de toda a construção física, algo comum para qualquer condomínio, o cohousing pressupõe a “construção social”, a formação do grupo, com todos os seus acordos de convivência.



Quanto custa comprar uma casa ou apartamento num cohousing? 



Levando-se em conta que os cohousings têm uma grande casa comum ou sede e mais algumas instalações coletivas, e ao mesmo tempo as casas ou apartamentos não precisam ser grandes em função de se haver estas instalações coletivas, pode-se dizer que comprar uma casa ou apartamento num cohousing equivaleria ao que se gastaria para comprar um imóvel convencional.  



A par disso o preço do cohousing é definido por cada grupo, a partir do padrão desejado pelo grupo para o seu projeto. Por isso é importante que as pessoas se juntem a outras que têm padrões e possibilidades financeiras semelhantes. Seria frustrante uma pessoa começar a participar de um grupo que no final definiria um padrão e um valor que ela não pudesse pagar. 



Como começar um cohousing?



O cohousing é normalmente começado por um pequeno grupo de pessoas, cerca de 3 a 6 pessoas, amigos ou não, que se reúnem com esse objetivo. O grupo fundador. É esse grupo inicial que começa a definir os objetivos, os valores e a missão desse cohousing. É também o momento em que se deve também aproveitar e estudar as diversas ferramentas e técnicas existentes para a tomada de decisões em grupo. 



Quais são os benefícios do cohousing para a saúde?



Quando uma pessoa mora num cohousing ela se torna membro de uma comunidade autogerenciada, vibrante, onde o isolamento e a solidão deixam de existir. As pessoas podem redescobrir seus talentos e habilidades e desenvolver novas atividades. A vida passa a ganhar um novo sentido. Com os estudos internacionais sobre qualidade de vida no envelhecimento que mostram que o fator mais importante para a saúde integral são as conexões humanas de cooperação, amizade e confiança, as pessoas que vivem num cohousing passam a contar umas com as outras, sentindo que estão amparadas pelas demais. 



Para que tipos de pessoas é indicado um cohousing?



O cohousing é indicado para pessoas que valorizam o conviver com outras pessoas, que desejam participar de uma comunidade, que sabem partilhar e que buscam o autodesenvolvimento. As experiências internacionais demonstram que os membros de um cohousing crescem e evoluem como seres humanos ao longo do tempo.



Qual é o tamanho de um cohousing?



As experiências internacionais têm mostrado que os cohousings não devem ser muito pequenos e nem muito grandes. Um cohousing com menos de 15 moradias terá uma pequena amostra da diversidade e complementaridade que tornam ricos os grupos, e seus custos serão mais altos. Um cohousing com mais de 35 moradias terá um grupo de moradores maior do que os grupos com os quais estamos acostumados a conviver em nossas vidas, como uma classe de alunos, por exemplo, dificultando o conhecimento e a relação. De modo que a faixa entre 15 e 35 unidades de moradia é a recomendada pelos especialistas internacionais.



Quantas pessoas vivem num cohousing?



A média mundial é de cerca de 1,5 pessoas vivendo em cada casa ou apartamento. Metade casais, metade singles. Os cohousings têm em média 25 a 60 membros.



Quais são os profissionais que devem ser contratados para formar um cohousing?



O cohousing normalmente se inicia com a formação do grupo a partir de um núcleo central de pessoas, que costuma variar entre 3 e 6 pessoas. São estas pessoas, o chamado core group, que irá definir os valores centrais, as chamadas cláusulas pétreas, que irão nortear a formação do cohousing. A partir disso começa-se a admissão de mais membros, fase em que é importante um facilitador externo para conduzir as reuniões. Simultaneamente começa a busca do terreno, o que fica a cargo de um subgrupo do grupo maior. Corretores são acionados para auxiliar na busca. A partir disso um arquiteto com visão e experiência em comunidades, condomínios, acessibilidade, neuroarquitetura e biofilia, começa a planejar o projeto. E em paralelo são construídas as bases legais para o empreendimento, com o apoio de um advogado com experiência em comunidades intencionais. Este profissional tanto ajudará o grupo na definição do formato legal do cohousing, quanto coordenará a construção dos acordos entre os membros, resultando num estatuto.



Como se tomam as decisões no cohousing?



Nas comunidades de cohousing nos EUA os processos decisórios costumavam ser  baseados no consenso. Com o passar dos anos verificou-se que o consenso demorava muito, era pouco eficaz. E aí começou-se a usar a sociocracia, um sistema que se baseia na transparência, na equivalência e na eficácia. Com ele as decisões passaram do consenso para o consentimento. Hoje em dia a maioria das cerca de 200 comunidades de cohousing nos EUA usa a sociocracia.



Quais são atualmente algumas das iniciativas de cohousing no Brasil ?



Associação Vila Conviver – www.vilaconviver.org.br



Cohousing em Rede – www.cohousingemrede.com.br



Sandra Natalina Tonon – Rio Grande do Sul – [email protected]



Co-Lares no Mar – Bertioga – https://www.colaresnomar.com                                        Bem Viver – São Paulo – [email protected]



Villa Compartilha – Lagoa Santa – MG



Vilarejo Senior Cohousing – Curitiba



Como saber mais sobre cohousing, se sou um profissional interessado em cohousing, ou se sou uma pessoa que desejaria viver numa comunidade assim? 



A Free Aging, plataforma de eventos para a longevidade, acaba de lançar a II edição do Curso Internacional de Cohousing. O curso terá início em 1º de agosto e irá até 7 de dezembro, com aulas, palestras e grupos de estudos às 2as e 4as feiras das 18 às 20h. O curso contará com a participação de especialistas norte-americanos como Laura Fitch, arquiteta e moradora há 25 anos no Pioneer Valley Cohousing, em Amherst, Massachussets,  Jerry Koch-Gonzalez, instrutor certificado de sociocracia, Gina Simm, especialista em CNV – Comunicação Não Violenta e  autora do livro From Heart to Heart, também moradora no Pioneer Valley; Erica Elliott, médica especialista em medicina integrativa, co-fundadora do cohousing The Commons, em Santa Fé, Novo México, EUA, autora do livro Medicine and Miracles in the High Desert: My Life Among the Navajo People; a canadense Margaret Critchlow, criadora da Canadian Senior Cohousing Society e fundadora da Harbourside Cohousing, o primeiro senior cohousing de Sooke, British Columbia, Canadá; Robin Allison, fundadora do Earthsong Eco-Neighbourhood, o cohousing pioneiro na Nova Zelândia, em Auckland, e autora do livro Cohousing for Life, entre outros especialistas estrangeiros.



O curso contará também com profissionais brasileiros, como a advogada especializada em direito sistêmico Luciana Macedo Vieira da Silva, com experiência na gestão legal de comunidades intencionais, e criadora da rede JusLaw, entre outros.



 



O curso, que será conduzido através da plataforma zoom, em português e inglês (com tradução simultânea para o português), é indicado para arquitetos, gerontólogos, sociólogos, psicólogos, advogados, facilitadores de grupos e pessoas que querem criar seus cohousings ou simplesmente viver em um cohousing. 



O site para inscrição no curso é www.cursocohousing.com.br



 Você pode participar gratuitamente de uma das lives introdutórias ao Cohousing enviando email para [email protected] ou através do whats app 12 9960 51530






Imagem por: Freepik


Edgar Werblowsky

Edgar Werblowsky é incentivador do cohousing no Brasil. É coordenador do Curso Internacional de Cohousing. Criador da Free Aging, plataforma de eventos de envelhecimento saudável e longevidade. Fundador da Freeway Viagens, e da Immaginare Experiências

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