Como deve ser a casa do idoso?

por Gigi em 14 de outubro de 2021
Renata Sollero

Fisioterapeuta e Especialista em Uroginecologia


Você concorda que a sua casa é o melhor lugar do mundo? “Viajar é uma delícia, mas voltar para casa é ainda melhor” é uma frase com a qual você se identifica?



Isso acontece quando o nosso lar tem nossa energia, os objetos e decoração têm nossa cara, são cheios de significado e contam um tanto da nossa história. Pode até ser que o espaço não seja exatamente como você sonha, mas te transmite segurança e é onde você pode fazer o que bem entender.



Esse artigo é para chamar a atenção para essa “Dignidade de Morar”, que deve ser protegida até o final da vida de cada um. O envelhecimento não faz com que paremos de nos importar com o lugar em que habitamos. Então, mesmo quando o idoso vai perdendo sua autonomia e independência, é essencial zelar por essa “identificação” dele com sua residência.



Atualmente as opções de moradia para os 60+ são múltiplas e novas opções estão sempre aparecendo. Todos nós estamos envelhecendo e devemos pensar sobre onde queremos morar na velhice. Muitos continuam em suas casas da juventude, outros se mudam para espaços mais compactos, seguros e práticos. A perda da funcionalidade e/ou a ausência de rede de apoio familiar contribuem para os idosos se mudarem para ILPI’s, moradias assistidas, repúblicas, cohousing, dentre outros.



Em qualquer uma dessas possibilidades, o mais importante é que A CASA TENHA A IDENTIDADE DO SEU MORADOR.



Diante disso, vamos refletir a respeito de duas situações:



1- O idoso que permanece na sua casa e precisa contratar um acompanhante, ou cuidador que o auxilie na vida diária.



Nesse caso, os profissionais que atuam na residência (inclusive terapeutas de saúde) precisam cuidar da sua postura profissional e ética e nunca se esquecer que o seu local de trabalho é o espaço de intimidade daquela família. Descrição, empatia, cordialidade, tranquilidade, bom relacionamento inclusive com os colegas de trabalho são essenciais para respeitar os seus empregadores.



Além disso, ao propor mudanças no cotidiano ou espaço físico, lembrar-se que a decisão final é dos donos da casa. Nada de jogar tapetes e outros objetos fora e nem sair mudando tudo de lugar sem consultar os moradores.



2- O idoso que se muda para uma instituição de cuidados coletivo, especialmente uma ILPI.



Não podemos nos esquecer: essa instituição é a casa do paciente. Aliás, de todos os pacientes. 



Dessa forma, a primeira coisa a se pensar é: O ESPAÇO NÃO PODE TER CARA DE HOSPITAL (não dá pra acordar todo dia se sentindo um doente em reabilitação…) A decoração deve ser pensada tanto quanto a segurança do ambiente. Principalmente no dormitório, a pessoa deve encontrar objetos e fotografias que transmitam felicidade e familiaridade. E ao invés daquela casa toda combinada e dentro de padronagens rígidas, cada canto do imóvel deve remeter às memórias de um ou mais residentes.



A intimidade e privacidade devem ser respeitadas também. A nudez do corpo não deve ser exposta a visitantes e fatos particulares da vida de cada um devem ser mantidos em sigilo. Apesar de haver necessidade de padronização de rotinas dentro das instituições coletivas, a singularidade de cada idoso precisa ser resguardada. Valores, história de vida, personalidade e preferências devem ser observadas, além das limitações e potencialidades.



Tudo isso parece meio confuso e talvez vá na contra mão dos ideais pré-estabelecidos, baseados em recomendações de saúde e segurança. Mas pra encontrar o equilíbrio entre esses domínios e a dignidade de cada pessoa assistida torna-se imprescindível o exercício de se colocar no lugar daquele que ao envelhecer precisou de cuidados de terceiros. Isso pode ser a realidade de um de nós, não é verdade?


Renata Sollero

Fisioterapeuta e Especialista em Uroginecologia

Fisioterapeuta pela Universidade Federal de MG, Especialista em Uroginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas de MG. Experiência na Assistência à Terceira Idade (individual e em grupo) há mais de 13 anos. Consultora em Gestão do Cuidado do Idoso e Segurança e Funcionalidade do Domicílio.

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