Corpo e dança na velhice

por Gigi em 18 de novembro de 2016
Wanda Patrocinio

Idealizadora e Diretora da GeroVida. Pedagoga, Mestre em Gerontologia, Doutora em Educação, todos pela UNICAMP. Atua no setor de ILPI há mais de 10 anos.

Uma marca da sociedade contemporânea é a dificuldade em lidar com o envelhecimento; na maioria das vezes, a discriminação e o preconceito fazem com que os idosos não se permitam vivenciar sua velhice de forma plena, expressiva e prazerosa.

Os idosos, em geral, demonstram ter vergonha de seu corpo e timidez para colocá-lo em movimento. No primeiro contato destas pessoas com a dança é importante fazer com que percebam que existe beleza e capacidade em seus movimentos para que possam entrar em contato com sua autoimagem, refletindo sobre o próprio corpo e valorizando sua experiência corpórea. Assim, uma das possibilidades de trabalho é a técnica da dança interna. Nesta técnica, os participantes começam o trabalho com os olhos fechados. Coloca-se uma música envolvente e os participantes são orientados a deixar que o movimento venha de dentro, que deixem a música tocar lá dentro da alma e que deixem o corpo se movimentar conforme os sentimentos que vierem a emergir com a música. Não existe regra, nem certo e errado. A única regra é deixar o movimento vir exclusivamente pelo sentimento que a música provoca em seu ser. Realizar um trabalho artístico de olhos fechados permite que os idosos possam agir de forma sensível, sem se preocuparem com os julgamentos que comumente encontram na sociedade e aí o corpo flui, se movimenta livremente, com beleza e graça.

María Fux, bailarina, coreógrafa e dançaterapeuta argentina que já passou da oitava década de vida, realiza um trabalho com a dançaterapia em várias faixas etárias. Na velhice, em sua experiência, afirma que muitos idosos chegam à dança após um longo caminho de esquecimento e desencontros com seu próprio corpo, com uma história de sedentarismo, com posturas que os distanciam cada vez mais da flexibilidade natural, com tensões psíquicas, preconceitos e medos enormes de se mostrar. A maioria se questiona se dançar / se expressar é algo que vale a pena, já que sentem que perderam toda possibilidade de expressão e movimento no cotidiano. Muitos perguntam: Na minha idade, será que eu posso? Será que eu vou conseguir?

Pesquisas envolvendo dança e idosos (Patrocinio, 2010; Leal e Haas, 2006; D’Alencar, 2006; Ueno et. al., 2012) comprovam as contribuições desta atividade para a saúde física e mental dos sujeitos, principalmente no que se refere aos ganhos ligados à força, ritmo, agilidade, equilíbrio e flexibilidade.

A dança é capaz de produzir mudanças nas pessoas. O que o profissional faz é estimular as potencialidades que todas as pessoas possuem. Através do movimento, a dança possibilita à pessoa a se conhecer melhor, a entrar em contato com partes profundas de si mesma, com sentimentos muitas vezes difíceis de serem expressos verbalmente, e a explorar novas formas de ser e de sentir. Desta forma inicia-se uma modificação de forma fluida no ser idoso, que passa a se escutar sem julgamentos.

No entanto, temos sempre o desafio: como fazer com que os idosos menos experientes em dança se respeitem, respeitem o limite do próprio corpo e, principalmente, se aceitem como são? Feldenkrais (1984) afirma que para que a pessoa possa se orientar bem com seu corpo e expressividade, é importante que encontre um jeito de fazer os movimentos de maneira fácil, confortável e satisfatória. Além disto, o profissional pesquisa o que é necessário para a aprendizagem do aluno naquele momento e, através do circuito duplo do feedback, entre o aluno e o profissional, o aluno percebe um novo padrão de possibilidade.

De acordo com Goldfarb (1998) as limitações corporais e a consciência da temporalidade são problemáticas fundamentais no processo de envelhecimento, aparecendo de forma reiterada no discurso dos idosos. Corpo e tempo se entrecruzam no processo de criação em dança, e das formas desse entrecruzamento nascerão as múltiplas possibilidades de expressividade no corpo que envelhece.

O conteúdo da dança, o movimento corporal, a expressividade, a reflexão com fins de criação, todo este conteúdo é um instrumento importante na vida dos participantes, por proporcionar-lhes bem-estar físico, social e psicológico; estas práticas podem ser benéficas para a saúde, sendo considerada atividades que trazem satisfação pessoal, superação de limites e desenvolvimento de potencialidades e capacidades antes enclausuradas por nossa cultura social.

A dança pode, assim, contribuir para a qualidade de vida e para o envelhecimento saudável de adultos e idosos.

Participe também, deixe sua opinião, sugestão e críticas.

Até a próxima.




Referências:

D’Alencar, B. P. (2006). Biodança como processo de renovação existencial do idoso: análise etnográfica. Tese de Doutorado. Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo. São Paulo.

Feldenkrais, M. Vida e Movimento. São Paulo: Summus, 1984.

Fux, M. Acessado em 14 de novembro de 2016. Disponível em http://www.mariafux.com.ar/

Goldfarb, DC.  Corpo, tempo e envelhecimento.  São Paulo: Editora do Psicólogo, 1998.

Leal, I. Z., Haas, A. N. (2006).  O significado da dança na terceira idade.  RBCEH – Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano.  Passo Fundo, jan./jun.

Patrocinio, W. (2010). Musicalidade e Movimento Corporal para adultos e idosos. Revista a Terceira Idade: Estudos sobre o Envelhecimento, 21(47).

Ueno, D. T., Gobbi, S., Teixeira, C. V. L., Sebastião, É., Prado, A. K. G., Costa, J. L. R., Gobbi, L. T. B. (2012). Efeitos de três modalidades de atividade física na capacidade funcional de idosos. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, 26(2).

Foto por: Ebarella_R

Wanda Patrocinio

Idealizadora e Diretora da GeroVida. Pedagoga, Mestre em Gerontologia, Doutora em Educação, todos pela UNICAMP. Atua no setor de ILPI há mais de 10 anos.

Idealizadora e Diretora da GeroVida – Arte, Educação e Vida Plena. Pedagoga, Mestre em Gerontologia, Doutora em Educação - UNICAMP. Professora, Pesquisadora e Terapeuta em Homeostase Quântica Informacional, Instituto Quantum.  Até junho de 2019 desempenhava o papel de professora do Programa de Mestrado de Gerontologia da Universidade Ibirapuera, UNIB, SP. Curso de Extensão em Psicogerontologia, PUC-SP. Curso de Estimulação Cognitiva com ênfase em memória para idosos, Pinus Longaeva, SP.



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