Uma pequena contribuição para desmistificar o envelhecer

por Gigi em 12 de janeiro de 2017
Diego José Bonatti

Psicólogo (CRP: 06/99594)

Pessoal, vamos desmistificar e progredir com o nosso pensar. Quem nunca ouviu dizer ou já disse: “E aí meu velho” para algum amigo de vinte e poucos anos? Às vezes, eu escuto as pessoas usarem o termo “moço” ou “moça” para quem tem mais de 60 anos de idade, o que pode sugerir o quanto é difícil aceitarmos o simples fato de que as pessoas ficam “velhas”. Sim! Nós ficamos velhos e velhas, mas nunca desvalidos (as)! Observo as pessoas referindo-se aos velhos por “vôzinho (a) ” e ou “senhorzinho (a) ”; ou outras substituições comuns; mas, enfim, porque não procuramos saber o nome destes “vôzinhos” e “vôzinhas” para nos referir a eles? Este é um tema que precisa ser considerado do ponto de vista cultural; isto é, acreditamos que velho está associado à doença, imprestável, sem valor, em desuso, obsoleto, ultrapassado e outros termos mais que soam depreciativos. Então, seria este o motivo de substituir uma palavra por outra? Não deveriam então os nossos sentimentos com o envelhecimento serem trabalhados ou modificados?

Uma vez que passamos a reforçar estes conceitos, criamos uma cultura onde temos que nos policiar sobre o que se podemos ou não dizer. Vale ressaltar que estamos inseridos em uma sociedade onde se instalou o politicamente correto; isto é, alguns termos não são mais aceitos. Compreendo este fenômeno, e vejo o incentivo ao desuso de algumas palavras e sua recolocação por outras de mesmo significado, com o intuito de modificar a maneira de abordar qualquer tema. Contudo, acredito também e isto revela a nossa dificuldade e preconceito ao aceitar o processo natural de desgaste o qual estamos sujeitos.

Sugiro um vídeo interessante o qual retrata um homem de 73 anos de idade praticante de Jiu – Jitsu, o vídeo está disponível nesse link.

Há pouco tempo, admito que acreditava friamente que os atletas, profissionais ou não, só poderiam seguir carreira até próximo aos 30 anos de idade e, após este marco não seria mais possível alcançar bons rendimentos por questões físicas; entretanto, ao pesquisar sobre o assunto deparei-me com outra realidade, há atletas com mais de trinta de anos que ainda estão ou alcançaram seu auge, tais como; Usain Bolt (Campeão Olímpico de Atletismo em 2016 aos 30 anos), Fabrício Werdum ( Lutador Mixed Martial Arts aos 39 anos), Rogério Ceni (Goleiro do São Paulo Futebol Clube aposentou-se aos 41 anos), Sérgio Dutra Santos (Campeão Olímpico do Vôlei Masculino Brasileiro em 2016 aos 41 anos), Daniele Hypólito (Ginasta Olímpica Brasileira aos 32 anos), Terezinha Martucci (Atleta Corridas de Rua de Jaboticabal/SP aos 78 anos), entre outros atletas de renome.

Convido-os a refletir a forma como limitamos nossas atividades diárias, práticas de esporte e lazer às questões temporais; estamos condicionados a aceitar os limites os quais nos são impostos e segui-los religiosamente, muitas vezes sem nos questionarmos sobre a nossa real vontade e disposição.

Aceitamos o fato que simplesmente isto ou aquilo não é mais para esta ou aquela idade, que somo velhos demais, que estamos ultrapassados. Culminando em afirmações clássicas e preconceituosas: “velho não faz sexo”, “velho não namora”, “os velhos são pessoas que não podem se esforçar muito”, “são pessoas frágeis”, “velho não anda na rua sozinho”, “velho não joga futebol”, “velho só vê TV”, “velhas só fazem costura/crochê”; mas afinal, o que estas pessoas, de 60, 70, 80 anos realmente querem fazer? Onde elas realmente querem estar?

Devemos refletir e nos conscientizar que em breve seremos nós, velhos e velhas, com limitações naturais da idade, os quais, algumas vezes não acompanham a nossa psique – gerando negação, raiva e depressão. As limitações impostas apenas acentuam e reforçam uma ideia pejorativa do “ser velho”. Seja velho, seja novo; respeitem o semelhante, as limitações físicas e psíquicas; ou seja, as diferenças naturais às quais estamos sujeitos.

Deixe seus comentários, participe e opine; há muito que abordar sobre este tema.

Até a próxima!




Foto por: Diego José Bonatti.

Diego José Bonatti

Psicólogo (CRP: 06/99594)

Psicólogo Clínico, Formado pela Universidade Paulista (UNIP) - Ribeirão Preto em 2009. Especialista em Teorias e Técnicas Psicanalíticas pelo Instituto de Estudos Psicanalíticos - Ribeirão Preto/SP. Atua também com Equoterapia (método terapêutico educacional que utiliza cavalos), desde 2013 e também como Coordenador do Lar Acolhedor São Vicente de Paulo de Jaboticabal.



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