Depressão, segundo a OMS, é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias, durante pelo menos duas semanas. Trata-se de doença psiquiátrica que desencadeia prejuízos biopsicossociais para os acometidos.
De acordo com a Organização, estima-se que até 2030 a depressão seja a condição mais comum do mundo, mais ainda do que problemas cardíacos ou câncer. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde mais atual (2013) revelam que 11,2 milhões de brasileiros receberam esse diagnóstico por profissional de saúde mental. Analisando pela faixa etária os dados mostram que a faixa de 60-64 é a mais acometida, com 11,1% dos casos.
A
prevalência entre a população idosa é expressiva, e pode estar sendo
subestimada. Isso porque costuma-se considerar o desânimo, um dos sintomas mais
clássicos da doença, algo normal do envelhecimento.
Ou
ainda porque o mal psíquico quando presente em idosos, pode não apresentar,
inicialmente, as manifestações clássicas de tristeza, angústia ou crises de choro, mas outras “atípicos”.
Nesse contexto deve-se estar atento a queixas de dores pelo corpo, falta de
apetite, insônia, perda de energia para realizar tarefas, pessimismo, tendência
ao isolamento e apatia, que podem ser fortes
indicadores. Toda mudança de comportamento ou no estado geral da pessoa deve
ser informada ao médico e toda a equipe de saúde.
O desinteresse pelo ambiente e consequente desatenção e falta
de memória podem ser sinais de depressão, que acaba muitas vezes sendo
confundida com demência. Esses fatores acabam dificultando o diagnóstico e
adesão ao tratamento, pois muitos pacientes e família não aceitam/ reconhecem a
doença.
Embora seja uma condição bastante comum, a depressão entre
idosos está longe de ser normal. Acredita-se que a exposição a estressores
sociais como pobreza, violência, descaso da família e falta de assistência
médica/ outros serviços de saúde aumentem a chance de desenvolvimento do
quadro.
Nos dias atuais, o isolamento social imposto pela pandemia do Coronavírus oferece mais riscos à saúde mental e pode agravar a solidão já muito comum na faixa etária (viuvez, encerramento da vida profissional, a saída dos filhos de casa e a perda de entes e amigos queridos, além da institucionalização). A impossibilidade de realizar passeios, viagens, confraternizações e outras atividades em grupo trazem impactos importantes na saúde mental.
Por
isso, vale lembrar que o distanciamento físico nesse momento é importante para
a proteção da saúde dos mais velhos, porém não pode ser praticado o
distanciamento afetivo. Formas alternativas de enfrentamento precisam ser
pensadas pelos profissionais, em conjunto com os idosos e outros interessados
(familiares e amigos), de acordo com cada contexto.
A prevalência da doença ainda varia de acordo com a situação do idoso, sendo mais frequente naqueles hospitalizados e nos que vivem em instituições de longa permanência. No Brasil, a prevalência de sintomas depressivos nessa população varia entre 21,1% e 61,6% nas diferentes regiões do país. Tal fato pode estar relacionado com a dificuldade do idosos em conviver com o desconhecido e lidar com rotinas impostas, perda da autonomia e o sentimento de não ser importante, abandono familiar e perda de privacidade.
Em qualquer idade, a depressão pode prejudicar muito a
qualidade de vida do paciente. Quando mais velho, o indivíduo tende a ir se
tornando mais vulnerável e frágil, ou seja, a recuperação de agravos de saúde
se torna mais lenta. A progressão da doença pode levar a perdas funcionais, o
que aumenta o grau de dependência na realização das tarefas do dia a dia.
A condição dificulta o tratamento de doenças físicas (como diabetes, hipertensão…) por desinteresse em manter uma dieta saudável, praticar exercícios e atividades sociais e até mesmo aderir corretamente a tratamentos medicamentosos. Como consequência extrema da depressão aparece o risco do suicídio: entre os gravemente deprimidos, 15% se suicidam e esses números aumentam na terceira idade – os idosos chegam a tentar suicídio até sete vezes mais do que o adulto jovem.
Estudos científicos demonstram forte associação de sintomas depressivos
e incontinência urinária, aposentadoria, percepção negativa da saúde e má
qualidade do sono. O abandono familiar, a dependência e a falta de estimulação
física e cognitiva contribuem para essa autoavaliação negativa, aspectos comuns
na vida dos idosos institucionalizados.
Muitas ILPIs enfrentam problemas relacionados à insuficiência
e baixa qualificação dos profissionais do cuidado, falta de atividades físicas,
recreativas e ocupacionais e dificuldades em lidar com as peculiaridades de
cada indivíduo residente.
A dificuldade diagnóstica e de identificação dos fatores
relacionados muitas vezes levam à negligência dos cuidados dos doentes. O
manejo desses deve buscar por medidas que atuem nas condições que podem ser
tratadas/ modificadas para minimizar os impactos negativos na vida do idoso.
A avaliação de indivíduos da terceira idade deve incluir questionamentos sobre os aspectos sociodemográficos (sugere-se a Avaliação Multidimensional), além da aplicação dos testes Escala de Depressão Geriátrica em versão reduzida (EDG-15) e o Mini Exame do Estado Mental (MEEM).
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O tratamento é multidisciplinar, com o uso antidepressivos e
outras medicações, psicoterapia, atividades físicas e ocupacionais. Os mais
velhos precisam ser estimulados a iniciar e dar continuidade ao tratamento, a
realizar tarefas que são capazes (se responsabilizando, inclusive pelo
autocuidado) e a retomar seu papel familiar e convívio na sociedade.
Respeitando a sua individualidade, o paciente pode escolher
por exemplo por aulas de dança, artesanato, canto, grupos de convivência e
outras que façam sentido para ele. A presença da família é essencial para a
reabilitação e animais de estimação são amplamente usados como estímulo (pet
terapia). Porém, procure não exigir do doente a tomada de grandes decisões
imediatas.
Estratégias de baixo custo podem ser adotadas para melhorar a qualidade de vida dos idosos e auxiliar no tratamento da doença, principalmente nas instituições de longa permanência: melhorar a orientação temporal dos mesmos com relógios, calendários, quadros de tarefas, atividades em datas comemorativas; facilitação do acesso aos sanitários (leitos e poltronas mais próximos); agrupar os idosos em quartos/ espaços comuns de acordo com seu nível de funcionalidade, cognição e com rotinas semelhantes de sono/ vigília.
O excesso de medicamentos antidepressivos e não prescrição de estratégias além dessa reflete a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, despreparo da assistência e falta de suporte social e familiar.
A depressão, principalmente se não tratada, aumenta o risco de se desenvolver transtorno cognitivo e demência. Precisamos entender melhor a condição e as estratégias terapêuticas, encarar o problema de frente e ajudar a combater o preconceito acerca da condição, que leva ao sub diagnóstico, falta de tratamento, sofrimento dos envolvidos e aumentos com os gastos em saúde.
Baixe grátis: Ficha de Avaliação Multidisciplinar
Imagem por: freepik
Pesquisa Nacional de Saúde 2013: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pesquisa_nacional_saude_2013_estado_saude_vida_doencas_cronicas.pdf
http://especiais.correiobraziliense.com.br/depressao-e-mais-comum-entre-brasileiros-de-60-a-64-anos
Vieira SKSF, Alves
ELM; Fernandes MA, Martins MCC, Lago EC. Características sociodemográficas e
morbidades entre idosos institucionalizados sem declínio cognitivo. Rev. pesqui. cuid. fundam (Online) 2017;
9(4):1132-1138. [ Links ]
GUIMARAES, Lara de
Andrade et al . Sintomas depressivos e fatores associados em idosos residentes
em instituição de longa permanência. Ciênc. saúde coletiva,
Rio de Janeiro , v. 24, n. 9, p. 3275-3282, Sept.
2019
https://psiquiatriapaulista.com.br/depressao-idoso-sintomas-tratamento/
https://www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/manual_prevencao_suicidio_profissionais_saude.pdf
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