Com certeza você conhece alguém que teve um derrame ou AVC. E na sua ILPI, certamente já passaram várias pessoas com esse diagnóstico, mas com diferentes quadros clínicos. Vamos falar um pouco sobre o que é o AVC e como a fisioterapia pode ser decisiva na reabilitação e na qualidade de vida desses residentes.
Apesar de ser amplamente utilizado, devido seu maior reconhecimento, o termo AVC (Acidente Vascular Cerebral) não é o mais correto, e sim o termo AVE (Acidente Vascular Encefálico), pois o acometimento não ocorre apenas no cérebro e sim em todas as estruturas do encéfalo. Para começar então, vamos passar a usar o termo mais correto.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define AVE como “comprometimento neurológico focal (ou global), de ocorrência súbita e duração de mais de 24 horas (ou causa da morte) e provável origem vascular”.
Além de entender a terminologia, conhecer os tipos de AVE também é essencial para guiar a assistência à esses residentes. A OMS apresenta 3 tipos, de acordo com sua etiologia:
-AVE isquêmico: ocorre por uma oclusão súbita de uma artéria cerebral, por um trombo ou êmbolo, reduzindo, ou até mesmo, interrompendo completamente o fluxo de sangue para determinada região encefálica;
-Hemorragia Intracerebral: ocorre pela ruptura de uma artéria cerebral, com acúmulo de sangue no tecido cerebral e prejuízo no fluxo sanguíneo de determinada região;
-Hemorragia Subaracnóidea: ocorre pelo sangramento no espaço entre as meninges (pia-máter e aracnoide), com acúmulo de sangue na região e prejuízo do fluxo sanguíneo e compressão de regiões adjacentes.
Como vimos, as lesões podem ocorrer em diversas regiões do encéfalo, então o quadro clínico da pessoa vai depender da região acometida, e, saber qual a topografia do AVE do seu residente vai guiar a sua avaliação e sua abordagem terapêutica. Mas no geral, os sinais e sintomas clínicos são:
-Déficit cognitivo e alteração do nível de consciência;
-Comprometimento motor e sensitivo;
-Heminegligência;
-Afasia ou disfasia;
-Hemianopsia;
-Desvio conjugado do olhar;
-Apraxia;
-Ataxia.
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O residente com AVE pode ser abordado em 2 momentos: na fase aguda (até 3 meses após o início do episódio) e na fase crônica. A transição entre as fases é progressiva e o tempo em cada uma vai depender da extensão da lesão e da região acometida. Alguns idosos podem evoluir da flacidez para a espasticidade rapidamente, e outros levarem semanas ou meses.
Já levantamos, até aqui, alguns pontos importantes a se saber antes de iniciar a abordagem fisioterapêutica do nosso residente com AVE, sendo eles: Tipo, local da lesão, fase e sinais e sintomas.
Essas informações serão todas levantadas na principal ferramenta fisioterapêutica: a avaliação. Vamos agora esmiuçar um pouco mais sobre a avaliação do residente com AVE:
-Anamnese: história pregressa e atual da doença; antecedentes pessoais e familiares; hábitos e vícios; medicamentos em uso; exames de imagem e laboratoriais; rotina; suporte social, familiar e econômico, etc…
-Exame Físico: sinais vitais; inspeção; palpação e mobilização do residente; avaliação postural; avaliação ortopédica; etc…
-Exame neurológico: avaliação de tônus (Escala de Ashworth modificada); pares cranianos; reflexos; sensibilidade; motricidade voluntária; equilíbrio (Romberg); etc…
-Avaliação Funcional: trocas posturais; marcha; Instrumentos de avaliação funcional (Katz, Lawton, Barthel, Pfeffer, MIF); etc…
-Instrumentos específicos para avaliação de AVE: National Institute of Health Stroke Scale (NIHSS); Escala de Fugl-Meyer; Wolf Motor Function Test (WMFT); Box and Block Test (BBT); etc…
Após avaliar bem o residente e identificar suas necessidades, então é elaborado o plano terapêutico com condutas e objetivos. É importante lembrar que alguns residentes terão prognóstico de recuperação e regressão quase completa de sinais e sintomas, mas outros, deverão se adaptar à nova realidade, buscando funcionalidade, independência e qualidade de vida. Em um caso ou em outro, é a fisioterapia que irá dar boas condições de vida e saúde à essa pessoa.
O grande segredo é iniciar a abordagem fisioterapêutica ainda na fase aguda, com mobilização precoce passiva, logo após a estabilização clínica, e manter a fisioterapia com intervenções funcionais, motoras, cognitivas, etc., mesmo após a melhora funcional do residente para manter os ganhos e prevenir regressão.
Algumas condutas fisioterapêuticas com bons resultados em idosos com AVE:
-Alongamento passivo e ativo- musculatura encurtada ou com risco de encurtamento e musculatura hipertônica;
-Fortalecimentos ativos ou por eletroestimulação – Musculatura plégica e parética;
-Treino de posturas (controle e aquisição) – sedestação, ortostatismo, gato, decúbitos laterais;
-Treino de Marcha;
-Treino de equilíbrio – em posturas funcionais e as mais altas que a pessoa conseguir adotar;
-Treino funcional – de acordo com a demanda do residente;
-Controle esfincteriano – mesmo sem queixas de incontinência, pois a região pélvica também sofre alterações motoras e sensitivas;
-Estímulo sensorial – em regiões de hipoestesia ou hiperestesia;
-Posicionamento – prevenir lesões por pressão, encurtamentos e posturas lesivas;
-Analgesia – Articulações e musculaturas;
-Estimulação cognitiva – dar preferência à estimulação em dupla tarefa;
-Técnicas específicas- Bobath, facilitação neuromuscular proprioceptiva, Bandagens funcionais e realidade virtual;
-Adaptações – oferecer e treiná-las para uso adequado das mesmas.
Vimos que o AVE é uma patologia bem complexa, mas o fisioterapeuta é decisivo no cuidado do residente acometido por ela, juntamente com a atuação da equipe interdisciplinar. Quando cuidamos da pessoa idosa, sempre devemos ter em mente a visão global do residente, mas em umresidente com AVE, essa visão é imprescindível e fundamental para conduzir bem cada caso.
Imagem por: Freepik
Referências: – Morsch, P.; Pereira, G.N.; Bós, A.J.G. – Fisioterapia em Gerontologia – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Rubio, 2018
Referências: – Morsch, P.; Pereira, G.N.; Bós, A.J.G. – Fisioterapia em Gerontologia – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Rubio, 2018
-Rodrigues,
T.A.; Andrade e Silva, T.S.; Esotico, A.P.C.A.; Heyn D.; Naki, I.K.; Battistella,
L.R.; Bernardo W.M.; Andrada, N.C.; Imamura, M. – Acidente vascular Encefálico
Agudo: Reabilitação – Projeto Diretrizes: Associação Médica Brasileira; 2012
-Abreu, F. –
Fisioterapia Geriátrica- Rio de Janeiro: Shape, 2006
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