COMO CONVIVER MELHOR COM A INSUFICIÊNCIA VENOSA CRÔNICA E AS ÚLCERAS NAS PERNAS

por Gigi em 8 de outubro de 2020
Renata Sollero

Fisioterapeuta e Especialista em Uroginecologia


Antes de qualquer coisa, COMO FUNCIONA A CIRCULAÇÃO DO SANGUE?



O Sistema Circulatório, a partir do coração, bombeia o sangue rico em oxigênio e nutrientes através das artérias para todas as partes do nosso corpo. Depois de as células absorverem o que é útil à elas e produzir os dejetos desse processo metabólico, o sangue precisa voltar ao centro (coração) para ser novamente renovado e distribuído.



Costumo dizer que, nas nossas extremidades corporais, infelizmente não possuímos “outros corações” para facilitar esse caminho de volta. Entretanto, esse processo de retorno venoso é garantido por mecanismos musculares e válvulas presentes dentro dos vasos, sendo que, a contração da região das panturrilhas é que cumpre esse papel de “bomba de retorno”.



Então, POR QUE ACONTECE A INSUIFICIÊNCIA VENOSA?



A Insuficiência Venosa Crônica é basicamente uma lesão nas veias profundas das pernas que não permite que essa volta do sangue ao coração ocorra de maneira normal.



Segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular, 80% da população está sujeita a apresentar a doença em graus leves. Dentre os idosos, ela destaca-se entre as patologias vasculares mais frequentes e aumenta o risco de desenvolvimento de incapacidades físicas.



A origem exata do problema ainda é estudada pela medicina, mas a condição de base é a hipertensão venosa, a qual é causada por mau funcionamento das válvulas e/ou alterações no calibre desses vasos. Essas alterações causam retenção de líquidos nas pernas e outros sintomas.



QUAIS SÃO OS SINAIS E SINTOMAS DA DOENÇA?



As manifestações clínicas decorrentes da condição podem variar desde aqueles vasinhos visíveis nas pernas, varizes e edema, até alterações no aspecto da pele e úlceras (feridas abertas).



  • Formigamento, dor e/ou queimação;
  • Câimbras musculares;
  • Inchaço;
  • Sensação de peso ou de latejamento, cansaço das pernas;
  • Prurido cutâneo (coceira);


Em geral, esses sintomas pioram durante o dia, principalmente se o portador se mantiver de pé por longos períodos e melhoram com a elevação dos membros. Quando deitado para dormir, os sintomas tendem a cessar porque o retorno venoso é facilitado quando as pernas estão em posição horizontal.



Nos estágios mais avançados que se observam danos irreversíveis na pele da região afetada: escurecimento, descoloração ou descamação, que tornam o tecido mais frágil e propenso a abrir feridas (às vezes com uma pancada ou arranhão, outras sem trauma aparente), sendo que essas podem demorar anos para cicatrizar. Essas úlceras no geral não causam desconforto intenso; caso haja queixa de dor intensa desconfia-se de estarem infectadas.



INSUFICIÊNCIA VENOSA E ENVELHECIMENTO



Acredita-se que a causa mais provável para o aumento da condição nos idosos seria a diminuição de força da musculatura da panturrilha associada à redução da mobilidade da articulação do tornozelo e à deterioração gradual da parede dos vasos ao longo do tempo.



Os mais velhos também são os mais atingidos pela úlcera venosa, que está associada a hospitalizações frequentes, altos custos de saúde e incapacidade. Destacam-se, nesse contexto, as alterações de marcha que contribuem para o declínio funcional e fragilidade nessa população.



Diversos estudos científicos evidenciam a relação entre a insuficiência venosa e a piora da qualidade de vida dos seniors, devido aos sinais e sintomas já descritos, às limitações funcionais na vida diária, além de alterações psicológicas e mudanças na percepção do estado de saúde.



PREVENÇÃO



Para garantir a pressão normal nas veias, recomenda-se o controle do peso corporal, a prática regular de atividade física e a redução da quantidade de sódio na dieta. Tais medidas são essenciais para melhorar a circulação sanguínea, prevenir a Insuficiência Venosa e até mesmo diminuir o risco de aparecimento de feridas.



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TRATAMENTO



As manifestações clínicas da doença venosa são muito diversas e o tratamento mais adequado para cada caso deve ser definido por um angiologista e/ou cirurgião vascular. Trata-se de uma condição crônica, progressiva e sujeita a recidivas, demandando cuidados constantes e avaliação médica periódica.



Em qualquer caso, pacientes e cuidadores devem ser conscientizados e encorajados a respeito das seguintes orientações:



  • Combater o sobrepeso;
  • Evitar a imobilidade dos membros inferiores, não devendo permanecer de pé ou sentado por longos períodos;
  • Elevar as pernas (por 30 minutos ou mais, ao menos três vezes ao dia) para evitar edemas e outros sintomas, e dormir com as pernas mais altas que a cabeça, podendo usar uma almofada aos pés da cama;
  • Beber bastante água (especialistas recomendam que se beba aproximadamente 2,5 l/ dia ou 35 ml/kg de peso);
  • Não usar roupas e acessórios que comprimam os membros, formando uma espécie de garrote;
  • Calçados muito altos ou rasteiros devem ser evitados: aconselha-se um pequeno salto, de cerca de 3 cm;


A fisioterapia vascular contribui para a melhora do retorno venoso, diminuição do edema e controle do quadro clínico. Essa modalidade consiste na execução de exercícios terapêuticos, drenagem linfática manual e enfaixamento compressivo, ajudando a prevenir ou minimizar a perda funcional do indivíduo, que é um aspecto essencial na manutenção da saúde e qualidade de vida do idoso. O treinamento dos músculos da panturrilha é imprescindível: reduz os desconfortos apresentados e contribui para a cicatrização de úlceras.



A Terapia Compressiva é fundamental para tratar as altas pressões venosas que ocorrem nos pacientes e se divide em inelástica (bandagens) e elástica (meias compressivas).



As meias ajudam o sistema venoso e otimizam o bombeamento muscular. Devem ser calçadas antes de se levantar da cama pela manhã (não se deve dormir com elas) ou, se colocadas ao longo do dia, devem ser antecedidas pela elevação das pernas acima do nível do coração por aproximadamente 20 minutos. Não devem ser dobradas ou enrugadas (risco de garroteamento) e a pessoa que for colocá-las deve manter as unhas curtas e retirar anéis e outros acessórios. Além disso, devem ser substituídas a cada 6 meses.



Dispositivos de compressão pneumática são utilizados quando as meias de compressão não são eficazes ou quando a pessoa não consegue tolerá-las.



Não há até agora remédios que curem a doença, mas existem medicamentos tônicos das veias que possuem efeitos importantes nos sintomas. Cirurgias e escleroterapia também podem ser recomendados.
Os ferimentos devem ser tratados com muito critério para permitir sua cicatrização e evitar infecções. Nas Unidades Básicas de Saúde do SUS há profissionais treinados para realizar troca de curativos, que é prescrita a partir da avaliação da lesão.



O idoso deve ser sempre incentivado a manter sua independência e funcionalidade, além de ser incluído e responsabilizado pelo desenvolvimento satisfatório do tratamento.



Os profissionais de saúde envolvidos devem abordar cada caso de acordo com suas peculiaridades, sabendo lidar com as limitações decorrentes da idade avançada dos pacientes. O tratamento adequado aumenta a chance de cicatrização completa da ferida, melhora da qualidade de vida do paciente e evita o agravamento do caso ou o surgimento de outras doenças dele decorrentes.



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Imagem por: Freepik


Renata Sollero

Fisioterapeuta e Especialista em Uroginecologia

Fisioterapeuta pela Universidade Federal de MG, Especialista em Uroginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas de MG. Experiência na Assistência à Terceira Idade (individual e em grupo) há mais de 13 anos. Consultora em Gestão do Cuidado do Idoso e Segurança e Funcionalidade do Domicílio.



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